sábado, 31 de janeiro de 2009

Coisas de um país verdadeiramente cosmopolita...

Ontem, assisti a algo que me deixou estupefacto, intrigado, mas também orgulhoso do meu país! Senão vejamos...

Todos os fins de semana lá tenho eu que fazer a minha maratona de transportes até chegar a casa... Começo por volta das 19horas a ser transportado por uma máquina italiana, comprada na Madeira, trazida para Portugal, num barco espanhol... Faço o trajecto de 5 minutos de carro até à estação de comboio, onde passo a ser transportado numa máquina sueca, montada em Portugal, cujo destino não é o que quero... tenho de mudar de comboio em Monte Abraão, que como se sabe, se ainda hoje fosse vivo seria palestiniano... lá arrasto o meu troléi francês e a minha mochila suíça, onde transporto o meu computador made in China para dentro de uma outra máquina sueca, montada em Portugal...

Sento-me e observo a conversa de um filho para a sua mãe caboverdeana: "Mãe, mãe góto muito dito!" "Go-s-to! Gosto!"-corrige a mãe. "Eu trouve de lá!" "Trou-xe! Trouxe!" - corrige novamente a mãe. "Prontos!" - exaspera-se o pequeno de 6 ou 7 anos. "Eh pá! Vai masé aprender!" - levou ele de resposta. O meu sorriso pela situação, esmorece com nova mudança de comboio... tinha chegado a Roma - Areeiro, que é a capital italiana! Aproveito os poucos minutos que tenho para comprar a revista Sábado, que traz na sua capa o Sócrates, que como sabemos é um nome grego e com a revista vem o livro "Samarcanda" de Amin Maalouf, um autor libanês.

Entro pela terceira vez numa máquina igual às anteriores com destino ao Oriente, que foi projectada por Santiago Calatrava, um arquitecto espanhol.

Chego, por fim, à penúltima estação da minha longa viagem, onde tenho que esperar uma hora pelo último comboio do dia.

Tenho vontade de urinar e vou directo à casa de banho que está mais perto de mim... e milagre! Há fila de espera na casa de banho dos homens... transformo-me no segundo homem dessa fila... Olho para o tecto, tentando desfarçar o ar constrangedor da situação e ouço uma voz de sotaque brasileiro... "Muita arte... pouca casa de banho!" Mais constrangedora ficou a situação... anuí com um aceno de cabeça e um sorriso. "Estive vendo a cobertura de vidro. Muito linda! Mas muita arte pouca casa de banho!" Fantástico! Afinal, não é só porcaria que se faz na casa de banho... também se critica arte! Fico deveras admirado e constrangido pelo insólito da situação, até que a conversa de circunstância é interrompida pelo descarregar do autoclismo. Chegou a vez do brasileiro e a seguir viria a minha! Uffa! Que alívio!

Lá vou eu para a sala de espera, ver a série norte-americana NCIS, que tem como protagonistas um americano, um italiano e uma israelita...

Chove imenso, mas as três horas de viagem dão tempo suficiente para pensar na quantidade de coisas estrangeiras que temos à nossa volta. Sou patriótico, mas não sou nacionalista, fico orgulhoso com a universalidade do nosso país, mas também pergunto: será que a presença portuguesa se faz sentir nos outros países? Seremos nós um país meramente importador? Não teremos qualidade para termos ideias para exportar?
Ah! Era 1h quando entrei em casa!

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